Sem receita, o banco enxerga risco. Seu papel é reduzir esse risco com preparo: um plano de negócio convincente, projeções realistas, garantias adequadas e a escolha certa da linha de crédito.
O que realmente trava a aprovação do seu crédito é o risco percebido
Instituições de crédito decidem com base em probabilidade: qual a chance de o dinheiro voltar com os juros projetados, no prazo desejado? Sem faturamento, o risco é alto por falta de histórico. Seu trabalho como empreendedor é reduzir essa percepção com quatro alavancas:
- Plano de negócio robusto: clareza de mercado, estratégia e execução.
- Projeções financeiras realistas: caminho para geração de caixa e pagamento. Tudo bem fundamentado.
- Credibilidade pessoal: histórico de crédito positivo do fundador pesa muito no início.
- Garantias/aval: podem compensar, toda ou em partes, a ausência de histórico da empresa.
Convença com dados, não com promessas
Sem receitas, o plano de negócio é seu principal ativo de negociação. Responda às perguntas que um analista de crédito faria:
- Há mercado comprovado e acessível? Qual o tamanho e a dinâmica competitiva?
- Qual a proposta de valor e por que ela é defensável?
- Estrutura de custos condizente com o setor? Qual o ponto de equilíbrio?
- Quanto capital é necessário até o negócio começar a se pagar e em que o dinheiro será usado?
- Premissas verificáveis para projeções de receita, custos e caixa?
Opções de crédito no Brasil para startups ainda sem receita
Microcrédito produtivo orientado
Valores menores (geralmente até o máximo de R$ 50 mil), com análise simplificada e acompanhamento de agente de crédito. Essa opção é útil para capital de giro inicial e organização operacional.
Linhas de fomento e desenvolvimento (ex.: BNDES e bancos estaduais)
Foco em inovação, produtividade e expansão. Costumam ter juros menores, carência de amortização e prazos maiores, mas exigem projeto técnico, licenças obtidas e capacidade de execução demonstrada.
Financiamento de equipamentos e ativos
O próprio bem (máquinas, TI, mobiliário) serve de garantia, reduzindo risco e ampliando acesso para empresas sem histórico. Essas são as opções de mais fácil acesso.
Crédito PJ via fintechs
Modelos de análise baseados em dados do fundador e do potencial do negócio. São uma alternativa quando o crédito bancário tradicional está restrito, mas são mais voltados para inovação e projetos com grande potencial de escala.
Independente da opção escolhida, é importante mostrar claramente como você vai pagar, através de projeções no fluxo de caixa
O centro da análise é a capacidade de pagamento. Apresente um Fluxo de Caixa Projetado com:
- Calendário de receitas por etapa (MVP, tração, expansão).
- Despesas fixas/variáveis, impostos e folha.
- Necessidade de capital de giro até o caixa ficar positivo.
- Impacto das parcelas: valor, prazo, carência e cobertura por caixa operacional.
Simule cenários (base, conservador, agressivo) e mantenha a relação serviço da dívida/caixa operacional em níveis saudáveis.
Prepare-se para garantias e aval
- Garantia real: imóvel, veículo ou equipamento em caução.
- Garantia pessoal (aval): terceiro responsável pela obrigação.
- Fundos garantidores: mecanismos que cobrem parte do risco do crédito.
Alternativas complementares
- Subvenções e editais de inovação: recursos não reembolsáveis para Pesquisa e Desenvolvimento - P&D e negócios de alto impacto (social, ambiental etc.).
- Investidores-anjo e aceleradoras: capital + mentoria + rede, que ganham dinheiro quando vendem sua parte do negócio.
- Crowdfunding (recompensa) e equity crowdfunding: validação de mercado e captação pulverizada.
- Parcerias e contratos-ponte: adiantamentos de clientes estratégicos.
Ao chegar até aqui, precisa ficar claro que, sem faturamento, a aprovação vem quando você mostra domínio do negócio, números críveis e salvaguardas. Trate o crédito como alavanca planejada e não como um atalho, pois o risco é grande e real. Contudo, com preparo, a porta se abre.
Perguntas Frequentes
Consigo crédito sem faturamento e com score pessoal mediano?
É possível, mas as condições tendem a ser mais duras (juros e prazos). Fortaleça o dossiê: plano robusto, projeções realistas, garantias, co-signatário e evidências de demanda, como cartas de intenção ou contratos preliminares.
Quais documentos costumam ser pedidos no início?
Contrato social e CNPJ, documentos e comprovantes do(s) sócio(s), plano de negócio e projeções financeiras, orçamentos, cronograma de uso dos recursos, certidões básicas e, se houver, comprovantes das garantias.
Microcrédito ou fintech: por onde começo?
Se precisa de valores menores e orientação, opte por microcrédito. Se busca agilidade e análise mais flexível do perfil do fundador, fintechs podem ser melhores. Compare sempre o CET (custo efetivo total) e as exigências de garantia.
Sem garantias reais, ainda vale tentar?
Sim. Aval pessoal, fundos garantidores e financiamento de equipamentos — onde o bem é a própria garantia — podem viabilizar a aprovação mesmo sem imóvel ou veículo em caução.
Como dimensionar o valor a captar?
Baseie-se no fluxo de caixa projetado: CAPEX inicial + capital de giro até atingir o ponto de equilíbrio + margem de segurança (geralmente entre 10% e 20%). Evite subcaptação — ela mata mais projetos do que os juros.
Cartão de crédito PJ é uma boa solução inicial?
Pode ajudar em despesas táticas e gestão de prazos de compra, mas não substitui um plano de capital estruturado. Controle o CET e evite manter saldos rotativos para não comprometer o caixa.
Quanto tempo leva para aprovar um crédito?
Depende da instituição e da modalidade. Microcrédito e fintechs costumam decidir em poucos dias; já linhas de fomento e financiamento de equipamentos podem levar algumas semanas. Um dossiê completo acelera o processo.
Posso combinar crédito bancário com editais ou investidores?
Sim. É comum usar subvenções ou investimentos para P&D e crédito para capital de giro ou aquisição de ativos. O importante é manter governança financeira e controle sobre o uso dos recursos de cada fonte.